segunda-feira, fevereiro 22

Faltam 4,8 milhões de embalagens nas farmácias


Em 2015 faltaram mais de 57 milhões de embalagens de medicamentos nas farmácias: uma média de 4,8 milhões de embalagens por mês, 166 mil por dia. Já em 2014, as faltas registadas tinham atingido também os 57 milhões de unidades, números que demonstram como pode ser complicado um doente conseguir, numa ida à farmácia, todos os medicamentos prescritos pelo médico.
Muitas vezes os pacientes são obrigados a esperar pelo dia seguinte ou a fazer quilómetros, de farmácia em farmácia, para conseguirem o remédio que precisam. De acordo com os dados do Centro de Estudos
e Avaliação em Saúde (CEFAR) da Associação Nacional que representa o setor (ANF), o pico de falhas aconteceu em janeiro de 2015 - só nesse mês faltaram sete milhões de embalagens, mais dois milhões em relação ao mesmo mês do ano anterior. Ao longo de 2015, a situação acabou por evoluir favoravelmente.
Em fevereiro houve ainda seis milhões de unidades a faltar mas o ano terminou com 3,7 milhões de unidades de remédios em falta - dados de dezembro de 2015, reportados por 1916 farmácias, menos 21,1% face ao final de 2014. As farmácias queixam-se das descidas das margens de lucro, os laboratórios falam da tentação da exportação e os armazenistas acrescentam os problemas da produção e dimensão do mercado nacional, que é pequeno e cada vez menos interessante e rentável.
As dificuldades financeiras das farmácias e o mercado da exportação são os principais motivos que estão na origem da falta de muitos medicamentos, como admitem os próprios responsáveis dos setores – farmácias e indústria farmacêutica. João Almeida Lopes, residente da APIFARMA, aponta o dedo à redução dos preços dos medicamentos imposta nos últimos anos, na sequência da intervenção da troika. Segundo o responsável, a situação favorece a exportação dos medicamentos para países onde os preços são mais atrativos, com maiores margens de lucro, o que acontece através da cadeia logística de distribuição. Mas João Almeida Lopes admite que os problemas financeiros das farmácias também acabam por condicionar a existência de stocks, nomeadamente de medicação mais cara.
Já a ANF, prefere centrar o problema na situação difícil que as farmácias enfrentam atualmente, desvalorizando a questão dos armazenistas. Refere, aliás, que o projeto-piloto da via verde do medicamento, em Coimbra, tornou as coisas mais transparentes a esse nível. O projeto não só resultou como há poucos dias foi anunciado o seu alargamento a todo o país. Esta via verde consiste num meio excecional de aquisição de medicamentos, que pode ser ativada sempre que registar uma falta. Este sistema usa uma plataforma gerida e controlada pela Autoridade Nacional do Medicamento, o Infarmed, através da qual os intervenientes no circuito – indústria, distribuidores e farmácias – asseguram a disponibilidade de um medicamento mesmo quando há dificuldades no mercado.
Os armazenistas, que têm a seu cargo, a distribuição da medicação, por sua vez, recusam assumir responsabilidades nas faltas de medicamentos em Portugal.
Ainda assim, no mês de dezembro de 2015, faltaram muitos medicamentos que consta da lista de exportação limitada, apesar de a situação ter melhorado face ao início desse ano. Por exemplo, de acordo com o relatório do Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR) da ANF, do medicamento usado para tratar renites alérgicas, o Avamys, faltaram 45.715 embalagens, do Lovenox, para as tromboses venosas, faltaram 37,832 embalagens.

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